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segunda-feira

Como funcionam as duas vacinas contra covid-19 que serão testadas em brasileiros

 As vacinas estão sendo produzidas no exterior em parceria com órgãos nacionais como parte da corrida global para se achar uma forma de conter a pandemia, que já contaminou mais de 7,5 milhão de pessoas e matou mais de 420 mil no mundo. Nas últimas semanas, duas iniciativas internacionais que estão na última fase de análise clínica anunciaram que usarão voluntários do Brasil - país que tem o segundo maior número de casos de covid-19 confirmados (mais de 800 mil) e o terceiro número de mortes (mais de 40 mil). A primeira é uma iniciativa da universidade britânica de Oxford, com testes começando neste mês envolvendo mil pessoas no Rio de Janeiro e outras mil em São Paulo. Voluntários de 18 a 55 anos que trabalham no setor de saúde estão sendo selecionados pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) em São Paulo e pela Rede D’Or São Luiz e Instituto D’Or (Idor) no Rio de Janeiro. A outra foi anunciada na quinta-feira pelo governo do Estado de São Paulo e será feita em parceria entre a criadora da vacina, a empresa chinesa Sinovac, e o Instituto Butantan, centro de pesquisas ligado à secretaria estadual de Saúde de São Paulo. Segundo a OMS, existem mais de 130 estudos de vacinas contra a covid-19 em andamento no mundo todo, mas apenas dez estão em fases adiantadas de estudo - o que inclui essas duas que serão testadas com voluntários brasileiros. Especialistas indicam que essa fase pode durar seis meses, e que a fase de produção e comercialização pode demorar ainda de 12 a 18 meses. No Brasil, há iniciativas do próprio Instituto Butantan junto com a Fiocruz e também da Universidade de São Paulo para criar uma vacina nacional, mas ambas ainda estão em estágio de análise pré-clínica. VACINA CHADOX1 NCOV19, DE OXFORD A vacina conhecida como ChAdOx1 nCoV-19 é um dos mais avançados experimentos científicos contra o coronavírus no mundo hoje. Ela é feita a partir do ChAdOx1, que é uma versão mais branda de um vírus que causa gripe em chipanzés, com modificações genéticas que impedem que ela se espalhe entre humanos. Material genético foi acrescentado ao vírus ChAdOx1 com a presença de uma proteína chamada glicoproteína de pico. Essa proteína existe na superfície do coronavírus e desempenha um papel fundamental no processo de contaminação, pois ela se liga a receptores presentes nas células humanas para invadi- -las e causar a infecção. O objetivo da vacina de Oxford é fazer com que o sistema imunológico do corpo humano reconheça a glicoproteína de pico e crie uma defesa contra ela. Uma parcela dos voluntários vai receber uma outra vacina, usada comumente contra meningite, que provoca sintomas parecidos. Este será o grupo de controle, usado para comparar e contrastar as duas vacinas. Os voluntários não serão informados sobre qual vacina estão recebendo. Eles vão preencher pela internet um diário ao longo de sete dias relatando seus sintomas, e serão monitorados por três semanas para qualquer mal-estar. Eles farão exames de sangue constantes para determinar se a vacina está sendo eficaz em produzir uma resposta imunológica. A universidade britânica disse que o Brasil é prioridade na última fase de estudos “por causa da sua curva ascendente de covid-19”. Além dos 2 mil brasileiros, também participam do estudo 10 mil britânicos e 30 mil americanos. Enquanto a universidade trabalha na ponta da pesquisa científica, ela também negocia a parte de produção em massa da vacina. A multinacional AstraZeneca, que apoia as pesquisas, diz que terá capacidade de produzir até 1 bilhão de doses da vacina de Oxford, tendo já firmado convênios para produzir até 400 milhões de doses. CORONAVAC DA SINOVAC A Sinovac Biotech é uma empresa privada com sede em Pequim que possui experiência na produção de vacinas contra febre aftosa, hepatite e gripe aviária. A empresa conseguiu logo cedo na pandemia criar uma vacina que impediu o contágio de macaco-rhesus com covid-19. Oito animais receberam duas doses da vacina CoronaVac. Três semanas eles foram expostos ao coronavírus e nenhum deles pegou covid-19. A empresa criou anticorpos específicos que agem para neutralizar o coronavírus, que segundo a foram bem-sucedidos em neutralizar dez cepas do coronavírus. Um estudo foi publicado com revisão por pares na revista científica Science no dia 6 de maio. O estudo com macacos mostrou que os animais que receberam doses maiores da vacina tiveram melhor resposta contra vírus. O estudo despertou algumas críticas de outros especialistas na área. Segundo a revista Science, o professor Douglas Reed, da Universidade de Pittsburg, que também está testando vacinas contra o coronavírus em macacos, levantou dúvidas sobre o baixo número estatístico de testes da Sinovac, que seria insuficiente para se tirar conclusões maiores. Ele também afirmou que a forma como o coronavírus foi usado no laboratório pode ter provocado algumas mudanças que o tornaram menos contagioso nos testes. Outra preocupação levantada é a de que os macacos não apresentam sintomas tão extremos de covid-19 como humanos. Mas outros cientistas elogiaram a iniciativa. “Eu gostei [do estudo]”, disse Florian Krammer, virologista da Icahn School of Medicine, de Nova York, para a Science. “Isso é um jeito antigo [de criar vacinas] mas pode dar certo. O que eu mais gostei é que muitos produtores de vacina, até em países de baixa e média renda, conseguiriam produzir uma vacina assim.” Desde então, muito já se evoluiu no estudo da CoronaVac. Os primeiros testes com humanos começaram na China no dia 16 de abril. O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse que o Brasil pretende ajudar não só na fase de desenvolvimento do CoronaVac, como também na produção e comercialização em território brasileiro da vacina. A Sinovac está construindo uma fábrica na China que, segundo a empresa, terá capacidade para produzir 100 milhões de doses da CoronaVac por ano. A empresa chinesa diz que, ao firmar o convênio, o “Instituto Butantan poderá assegurar que a população brasileira terá acesso a essa vacina”

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